O menino que aos 12 anos ensinou o tio semianalfabeto a escrever o
nome para preencher uma ficha de emprego já mostrava o talento para
ensinar. Seguiu a intuição, entrou na faculdade de letras e para
pagá-la aos 22 anos trabalhou como gari, varrendo as ruas de Diadema,
no ABC, por mais de um ano. João Ailton de Oliveira Santos, de 33 anos,
atua na rede pública do Estado de São Paulo e compõe o corpo docente
da Escola Estadual José Fernando Abbud, em Diadema.
Neste sábado (15), Dia do Professor, diz que valeu a pena o esforço,
que ensinar é gratificante, mas espera que a carreira seja mais
valorizada. "Gosto de ser professor, é sensacional.
Mas
a profissão está um pouco difícil com salas superlotadas, falta de
equipamento e salários baixos. O que compensa é o carinho dos alunos",
diz.
João Ailton em sala de aula, em escola estadual de
Diadema (Foto: Arquivo pessoal)
Diadema (Foto: Arquivo pessoal)
Santos dá aulas de português em turmas da quinta série, sétima série e
do primeiro ano do ensino médio. Prefere os alunos dos anos iniciais
por achar que eles se dedicam e demonstram mais afeto. Recentemente foi
aprovado no concurso público da rede municipal de São Paulo e no
próximo ano, se for convocado, pretende conciliar os dois empregos, em
São Paulo e em Diadema, com um mestrado. A meta é lecionar em
universidades.
'Trabalhador fantasma'
O emprego como gari foi sugestão de seu pai que conhecia o gerente da empresa. Santos não teve dúvidas em aceitar, passou por uma entrevista e logo foi para o batente. O salário era de cerca de R$ 400 mensais, o suficiente para pagar a mensalidade.
O emprego como gari foi sugestão de seu pai que conhecia o gerente da empresa. Santos não teve dúvidas em aceitar, passou por uma entrevista e logo foi para o batente. O salário era de cerca de R$ 400 mensais, o suficiente para pagar a mensalidade.
"Nos primeiros dias foi um choque porque era um trabalho pesado e
braçal que nunca tinha feito. Trabalhava um domingo sim e outro não. Era
a pior parte porque neste dia fazíamos a coleta das feiras."
À noite, na faculdade só os amigos mais próximos sabiam do ofício de
Santos. "Não falava muito porque sabia que haveria discriminação. Gari é
um trabalhador fantasma, alguém invisível. A pessoa está do seu lado,
joga um papel no chão e nem olha para você."
Santos não se envergonha da experiência e diz que nesta época aprendeu
a ser perseverante, como um professor tem de ser. "A rotina era
cansativa, mas não pensava em desistir. Sempre tive incentivo dos meus
pais mas sabia que valia a pena batalhar por um objetivo." O professor
lembra que os colegas garis diziam que ele aguentaria no máximo dois
meses de trabalho e que depois de superar a expectativa e conseguir se
manter no cargo, virou exemplo.
O professor só deixou as vassouras quando conseguiu um estágio em um
colégio no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, onde estudou. De
estagiário, passou a professor eventual - que cobre faltas dos docentes
titulares - até ser aprovado em um concurso, em 2004, e seguir para a
escola José Fernando Abbud, onde está até hoje.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário