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Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se atreve... A vida é "muito" para ser insignificante". (Charles Chaplin)


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“.... e aprendi que se depende sempre de tanta, muita, diferente gente. Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. E tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar ....”

(Gonzaguinha)

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terça-feira, 18 de outubro de 2011

UMA REFLEXÃO SOBRE A DOCÊNCIA

Há 48 anos na ativa, professora que tinha pavor de dar aula sofre pensando na aposentadoria

A professora Emilia Zughaib, que tem 68 anos de idade e 48 de magistérioO magistério não era a primeira opção da jovem Emilia. “Eu não queria ser professora. Minha vocação sempre foi direito. Aliás, ainda vou fazer quando me aposentar”, disse. Ela contou que foi o diretor do colégio em que estudava que a incentivou a seguir o magistério, deixando o curso de direito de lado.

“Tinha pavor de dar aula, era meu drama. Toda vez que tinha que entrar em uma sala, colocava alguém no meu lugar”. A coragem para encarar a turma veio do apoio de uma professora mais experiente. Com o tempo, o pavor foi passando e ela foi “tomando gosto pela coisa” e hoje afirma: “Eu amo o que eu faço. Acho que isso é uma das coisas principais”.
E se a rotina está mais tranquila, Dona Emilia lembra que nem sempre foi assim. “Comecei a dar aula no dia 5 de maio de 1963, como substituta. Em 1971 virei professora efetiva na Vila Jacuí, zona Leste. Eu e uma amiga minha escolhemos a escola sem conhecer, porque tinha mais vaga. No dia que eu fui lá pela primeira vez levei mais de três horas para chegar”.
Nessa escol,a ela ficou até 1978. O trajeto de casa para o trabalho passou a ser feito em, no máximo, 1h15, quando foi inaugurado um expresso que ia da Luz até Mogi das Cruzes. “Esse tempo era muito gostoso, porque a maioria do ônibus era só de professor. Era uma época mais família. Eu acho que isso está fazendo falta na educação, essa união entre profissionais”.
Dona Emilia já trabalhou na coordenação pedagógica, como vice-diretora e também deu aulas no magistério. “Era muito gratificante ver aquelas mocinhas e senhoras querendo aprender”. Ela conta que em 1991 estava para se aposentar e a Delegada de Ensino a convidou para participar da Oficina Pedagógica. Resolveu aceitar, mas teve que deixar a aposentadoria de lado. “Eu tive oportunidade de estudar muito. A bagagem da gente é uma coisa que ninguém tira”, afirmou.

Da ditadura à Internet

Dona Emilia recordou que na época da ditadura militar as aulas tinham que ser ministradas com as portas abertas: “Você tinha que se policiar, não podia falar certas coisas. Mas eu nunca percebi a visita do censor, se tinha eu não vi”. Quando a ditadura acabou e as eleições voltaram a acontecer, a professora se lembra de um debate realizado pelos alunos dentro da sala de aula. “Eles estavam criando uma consciência política e se posicionavam muito bem. Essa foi uma grande mudança, o simples fato de poder falar”.
Outra mudança veio com a internet, matéria em que os alunos ensinam os professores, segundo Emilia. “Eu tenho um computador que está fechadinho, acho que nem dá mais para usar, mas quero comprar um notebook. A gente pega muita coisa da internet para as aulas, mas falta o principal que é a ferramenta”, disse.
O que também vive mudando na sala de aula é a disposição das carteiras. A professora não gostava da época em que tudo era fixo, uma carteira atrás da outra. “Hoje você faz o que quer com a sala. Eu costumo trabalhar em dupla ou em círculo, que os alunos adoram. Quando estão em dupla, um vai ajudando o outro”.
A professora Emilia contou que tem vontade de rever antigos alunos e colegas que se formaram com ela em 62. Ela acredita que os professores deveriam se fixar em um lugar só, ter um salário que permitisse isso, que permitisse que o professor se dedicasse integralmente a uma escola. É o que ela vem tentando fazer há 48 anos.

Com 68 anos de idade e 48 de magistério, a professora Emilia Zughaib pensa em se aposentar no final do ano que vem. Ela dá aula para uma turma da primeira série do ensino fundamental, a 1ªA, na Escola Estadual Marechal Floriano, em São Paulo. “O pessoal aqui duvida que eu me aposente antes dos 70, mas acho que está na hora. Eu já venho me preparando há muito tempo, mas sei que vou sofrer”, contou.
A rotina da professora Emilia começa cedo, por volta das 4h da manhã, “para ir arrumando alguma coisa em casa antes de ir para a escola”. Às 6h15 (ou até 6h30, contando com atrasos) ela sai do apartamento em que mora com a mãe, uma senhora de 87 anos, e vai de metrô até a escola. O trajeto é tranquilo e não demora mais que 20 minutos. As aulas começam às 7h.
Nesse ano, a professora assumiu somente uma sala com cerca de vinte alunos. Emilia gosta de ter tempo para a criançada: “Eu sou de criar raiz aonde eu vou, não sou de ficar mudando muito de escola. Gosto de criar laços com os meus alunos, com os pais e com a comunidade em torno da escola”.
E esses laços foram comprovados pela reportagem do UOL Educação no dia da nossa visita: 14 de outubro, véspera do dia dos professores, é também a data do aniversário da professora Emilia. Presenciamos alguns alunos entregando presentes para a “prô”, inclusive uma menina que teve aula com ela no ano passado e disse que sentia saudades. “É isso que é gratificante”, disse recebendo um abraço da pequena aluna. “Na carreira inteira, a gente leva muita rasteira, mas esse carinho compensa tudo”, completou.

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