Poesia na escola
Em Itapipoca, a pouco mais de 200 quilômetros de Fortaleza, uma
professora respira poesia desde a infância. Na escola onde trabalha, ou
nas informações pela internet, ela auxilia outros professores a fazerem
da poesia um estímulo ao aprendizado.
Itapipoca é a terra natal do Tiririca, aliás, Francisco Everardo
Oliveira Silva, deputado federal eleito por São Paulo em 2010, na
segunda maior votação para a Câmara na história do País.
Mas não é a figura dele que está em pauta e sim a de Emiliana M. S.
Teixeira, pedagoga e especialista em metodologia do ensino fundamental,
graduanda em Letras-Inglês pela Universidade Federal do
Ceará/Universidade Aberta do Brasil (UFC-UAB) e pós-graduanda em Mídias
na Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Começar com as primeiras letras
“Desde criança, me encantei com a escrita e a leitura. Com 12 anos,
ganhei um violão de minha mãe. Desde então, nunca mais parei de escrever
sobre dores, paixões, alegrias, tristezas, ilusões e desilusões.
Precisava falar do meu mundo e do mundo ao mundo”, conta a professora.
Perguntada sobre qual a melhor idade para se gostar de poesia, ela diz
que “tudo deveria começar com as primeiras letras, pois as crianças
têm grande sensibilidade e capacidade de aprendizagem. Desde o
pré-escolar as crianças aprendem músicas infantis que tratam do seu dia
a dia. A música é pura poesia e as crianças já têm contato com ela sem
ter o conhecimento. O professor, salvo raras exceções, também não tem
consciência desse ato, do trabalhar poesia, ensinar com poesia”.
Repensar a prática dos professores é o caminho para a conscientização,
segundo ela, “pois a poesia pode ser trabalhada em qualquer
disciplina, em qualquer momento e desde cedo. Assim, os alunos vão
apreciando o belo: o balanço das folhas de uma árvore, o canto dos
pássaros, a música natural do ambiente, os sons do rio, da chuva e do
vento, o surgimento do sol e da lua, até atingirem um amadurecimento
poético e intelectual”.
O que afasta professores da poesia
“Buscar o novo dá trabalho”, afirma a professora. “Não é fácil sair da
rotina. Quando se fala em poesia, alguns se sentem analfabetos no
assunto. Outros se interessam por acharem bonito e por terem alguma
vocação para a escrita, o dom de brincar com as palavras e colocá-las no
lugar certo. Mas a resistência é grande. Esse tema deveria ser
trabalhado nos cursos de capacitação, nos planejamentos mensais.
Acredito que a escola deveria realizar mais projetos envolvendo a
poesia, como saraus e concursos de redação.”
“Cada professor se aprofunda naquilo em que já tem alguma aptidão ou
conhecimento. Os que sentem os encantos de um belo texto sempre buscam
mais sobre o fazer poético. Eles trabalham na sala de aula com dinâmicas
e metodologias renovadoras, seleção de bons livros, bons autores,
músicas. Também acho interessante o trabalho com os poetas da terra,
para que se conheça a cultura local, pois há uma grande riqueza no
folclore”, sugere a professora.
Para ela, “uma dica seria trabalhar a poesia com calma, a partir de
livros mais simples e músicas infantis para, em outra etapa, avançar com
os clássicos. Os alunos deveriam ser motivados a escrever sobre o que
veem e o que sentem. É importante deixar que falem e produzam o que
quiserem para depois, em avaliações, proporcionar a eles a melhoria dos
seus conhecimentos”.
“A poesia deveria ser trabalhada de maneira interdisciplinar, porque
quando penetra na mente dos pequenos leitores, aumenta a capacidade de
raciocínio deles, e esse é um primeiro passo para se criar o hábito da
leitura e da escrita”, complementa.
A professora Emiliana M. S. Teixeira tem trabalhos publicados em
antologias, jornais e concursos no Brasil e na América Latina.
Participou de obra em homenagem a Noel Rosa, na Bienal do Livro, em
setembro passado no Rio de Janeiro.
Atualmente, organiza o livro “Estalos Poéticos” - uma Coletânea
Literária de Itapipoca, apenas com escritores da sua cidade. Também
prepara um livro de poemas e crônicas para o público infanto-juvenil.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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