Mais de dois meses depois de começada a
greve nos IFs pelo Brasil o governo, através de seus cargos
comissionados do MPOG ainda mantém o mesmo discurso do início do
movimento: “não conversamos com grevistas”.
Após proposta de quase 7% de
reajuste aos correios e a sinalização de 9% para os funcionários do
Banco do Brasil, poderíamos redimensionar a frase da seguinte maneira:
“não conversamos com grevistas da educação”.
Hoje, minha principal preocupação de
filósofo é tentar decodificar o sinal que essa frase nos apresenta.
Conversando com alguns colegas consegui colecionar algumas apostas.
Tese 01 – provincianismo petista:
segundo alguns, o fato do ministro Fernando Haddad ser o pré-candidato
de Lula a prefeito de São Paulo, teria mobilizado forças ocultas no MPOG
(que atuariam para beneficiar Marta Suplicy e queimar o ministro boa
pinta). Um dos sinais que reforçam essa tese é a de que o MEC, a
despeito da intransigência do MPOG (que é quem manda no dinheiro), já se
sentou com o sindicato disposto a tentar resolver a situação da greve
da melhor maneira possível. Se essa ideia estiver correta, Haddad
estaria sendo fritado, no processo de purgação das sobras do lulismo,
que parece andar em curso no novo governo do PT.
Tese 02 – escolinha de políticos do tio Maquiavel: meu
amigo Sérgio Trindade, professor do IF Santa Cruz, defende uma tese
mais auspiciosa para os trabalhadores da educação federal. Segundo
Sérgio, Dilma repetirá a estratégia de Lula, que manteve um arrocho nos
salários durante os primeiros anos de governo, para soltar os reajustes
no final, perto das eleições. Lula foi esperto. Evitou perdas
acumuladas, se diferenciou de FHC (um nome amaldiçoado no serviço
público federal) sinalizando uma política de valorização dos servidores
mais perto do momento orgástico das urnas. Segundo o pensamento de que o
povo tem memória curta e de que o mal tem que ser feito no início dos
mandatos, todo de uma vez e o bem aos pouquinhos, em conta gotas,
mantida as mesmas condições de temperatura e pressão econômica, os
trabalhadores dos IFs receberiam seu quinhão salarial no fim do primeiro
mandato de Dilma, para fechar velhas feridas e animar a militância para
mais uma edição do confronto épico-cômico entre tucanos e petistas
pelas rédeas do Brasil.
Tese 03 – me engana que eu gosto: segundo
essa tese a greve seria produto de uma articulação do PSTU (grande
partido de massas da esquerda brasileira, capaz de por exércitos de
milhares de servidores federais nas ruas de todo país, com um simples
comando de seu líder supremo). Essa seria uma greve partidária e o PT
estaria “enquadrando o PSTU”. Dilma e os seus estariam então mostrando
aos ex-companheiros da convergência socialista que: “em governo de
trabalhador, agitador subversivo nenhum chega assim fazendo greve! Tá
pensando o quê?!?”.
Prefiro não comentar essa tese em honra ao bom gosto e a inteligência dos leitores desse Blog.
Tese 04 – Dilma e o lado negro da força: Segundo
essa quarta e última tese, a intransigência do governo Dilma
sinalizaria uma política pensada de longo prazo. De acordo com essa
leitura o governo já teria percebido que a expansão dos IFs pelo Brasil
não deu certo (com a honrosa exceção, justiça seja feita, ao Rio Grande
do Norte, um dos estados mais avançados no processo de ampliação da
rede). Percebendo que construir IFs é caro e lento, sabendo que o
mercado exige mais proletários tecnicamente qualificados no mercado para
impulsionar o crescimento econômico, cientes de que não é possível
forçar os docentes dos IFs trabalharem em sala de aula mais do que as
vinte e poucas horas determinadas pela legislação, o governo teria então
pensado uma solução mais “econômica”. Arrocharia quatro anos o salário
dos trabalhadores da educação obrigando-os a aceitar as bolsas do
PRONATEC como uma espécie de complementação de renda.
Assim, os docentes dos IFs
trabalhariam suas vinte horas em sala de aula nas turmas dos Institutos
Federais (ensinando a cursos integrados, subsequentes, proeja,
licenciaturas, graduações tecnológicas, pós-graduações presenciais e a
distância) e, para complementar o salário, mais vinte horas nas escolas
públicas do estado (aqui terão o nome de CETERNs) ou na rede privada
para ministrar cursos técnicos. Trabalharíamos mais umas vinte horas
semanais em casa para corrigir e elaborar provas, preparar aulas,
estudar para nos manter atualizados, completar nossa formação continuada
e ainda atuar com pesquisa, extensão, gestão. Não perderemos a vista
dos diversos editais que dançarão a nossa frente como sedutoras sereias
seminuas gemendo em nossos ouvidos a palavra mágica “produtividade…
produtividade… produtividade…”.
Com 60 horas de atividades por
semana seremos então os verdadeiros heróis da nação. Salvadores da
pátria. Vamos ser imolados no altar sacro santo do crescimento econômico
do Brasil e depois, com um pouco de paciência, reconstruir nossas
psiquês esfareladas pelo sistema educacional nos consultórios
psiquiátricos Brasil a fora. Com uma ajudazinha de tio Gardenal,
madrinha Lexotan e vovô Rivotril.
Amigo velho, eu não sei qual dessas
teses é a correta. Mas confesso que estou muito curioso para ver, daqui a
quatro anos, o resultado final desse governo. Lembrando a minha velha
ETFRN fico com o coração apertado, pensando se realmente fui enganado
pela promessa de uma expansão com qualidade e valorização do trabalhador
vendida pelo programa eleitoral de Dilma e dos seus. Só lembro do tal
ditado árabe que diz: “Se você me engana uma vez, a culpa é sua. Se você
me engana duas vezes, a culpa é minha”.
FONTE: Pablo Capistrano
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