"Recomendo
que as escolas sejam avaliadas com base na evolução do aluno e não
apenas nos níveis de proficiência", diz o economista americano David
Figlio. Especialista em políticas de responsabilização de escolas, o
pesquisador orientou Estados americanos e outras nações no desenho,
implementação e avaliação de políticas educacionais. Figlio fala sobre o
tema hoje em um seminário no Rio realizado pela Fundação Itaú Social.
Como é o programa de responsabilização escolar dos EUA?
O
governo exige que todos os Estados testem anualmente as crianças do
3.º ao 8.º ano do ensino fundamental em compreensão de texto e
matemática e pelo menos uma vez no ensino médio.
Os
resultados são apresentados em sua totalidade, mas também para
subgrupos raciais ou étnicos, alunos desamparados etc. Os Estados
determinam a nota mínima e as escolas devem atingir porcentagem de
alunos proficientes em cada subgrupo. As que insistentemente deixam de
atingir os objetivos sofrem sanções, que vão do corte de recursos até a
ameaça de fechamento.
Quais os caminhos para melhorar o rendimentos dos alunos?
É
uma pergunta difícil. Há poucos estudos que oferecem uma prova
definitiva. Uma coisa que sabemos é que professores excelentes fazem uma
grande diferença, mas não temos tido sucesso em definir formas
consistentes de treinar os docentes ou em identificar quem será
excelente antes de começar a lecionar. Por outro lado, as escolas
conseguem estimular o desempenho dos alunos quando eles são desafiados.
Fica claro, então, que há políticas e práticas que podem funcionar.
Minha pesquisa atual envolve a observação do que as melhores escolas têm
feito e verificar se as que fazem as mesmas coisas em diferentes
contextos conseguem resultados diferentes.
No Brasil, as disparidades sociais são muito grandes...
Esse
é um problema comum ao Brasil e aos EUA. Nos dois países também há uma
forte relação entre os resultados dos alunos e a riqueza do corpo
discente. Mas é possível criar um sistema de responsabilização que
considere isso. Recomendo que as escolas sejam avaliadas com base na
evolução do aluno e não apenas nos níveis de proficiência, que cada
colégio tenha um objetivo que seja desafiador e, ao mesmo tempo,
possível. A meta não deve ser arbitrária ou confusa.
Quais os cuidados na implementação do programa?
É
importante tomar cuidado porque os sistemas baseados em níveis de
proficiência são muito fáceis de manipular e há muitos exemplos de
escolas que obtêm boas pontuações de forma artificial.
O Brasil ainda não tem um currículo nacional único. Isso prejudica a avaliação?
Os
EUA também não têm. Isso não é necessariamente um problema, mas é
claro que um currículo nacional único ajuda a alcançar bons resultados.
Recomendo que o Brasil se esforce para evitar, por exemplo, que sejam
adotados padrões diferentes de acordo com o Estado, como ocorre nos EUA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário