Como
o desenvolvimento emocional do sujeito contribui para sua
autonomia e obtenção de conhecimento? Em sua palestra de ontem no palco
principal da Campus Party, o pesquisador e professor de tecnologia
educacional, Sugata Mitra, deu uma aula sobre as competências do saber, a
importância do reconhecimento emocional na aprendizagem, e as
aplicações possíveis e ainda pouco testadas da informática no ambiente
escolar.
Sugata Mitra é docente da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
A
primeira descoberta de sua pesquisa surgiu ao observar, ainda em 1999,
como crianças, estudantes do ensino público, de uma comunidade pobre
de Nova Délhi – Mitra é indiano – se comportavam mediante um computador
instalado sugestivamente num buraco de uma parede, com acesso livre.
A
partir das demandas geradas pelo acesso à máquina, o pesquisador pôde
verificar, entre idas e vindas, como ocorria, ao longo do tempo, a
capacidade de autogestão do conhecimento, no qual as crianças não só
aprendiam, mas também ensinavam umas às outras.“Quando uma criança
aprende, ela ensina a mais nova. E juntas, elas aprendem mais coisas”,
diz Mitra.
Após
a primeira iniciativa, Mitra começou a sistematizar seus estudos,
replicando o experimento em diferentes favelas locais, entre 2001 e
2004. Como apoio teórico, passou a rever os ganhos e os limites da
forma clássica de sala de aula, um tributo da antiguidade, em que os
alunos pouco interagem entre si, enquanto o professor fala em frente à
turma.
Entre
2006 e 2010, Sugata chegou a uma nova síntese de sua pesquisa ao
convidar avós com tempo livre para participarem desses momentos com os
netos – algo que ele designou como “nuvem de avós”. Enquanto os netos
usavam as máquinas para pesquisar sobre algum desafio dado para ser
completado, elas permaneciam por trás deles – uma mudança do local do
educador no arranjo espacial da sala – motivando-os durante o processo, a
cada nova etapa concluída.
A
taxa dos indicadores da pesquisa que conferiam quão proveitoso estava
sendo o processo para a aprendizagem saltou de 30% para 50%. “Se
funciona em Nova Délhi, onde as crianças crescem em meio a muitas
precariedades, funciona em qualquer lugar”, constatou. De fato, ele
obteve taxas semelhantes ao repetir a prática, agora em ambiente
escolar, em países tão distintos como China, Uruguai, Chile, Inglaterra e
Estados Unidos.
Especificidades
O pesquisador ressaltou, durante sua fala, quais seriam os componentes propícios a esta vivência. As crianças devem estar em grupos de amigos.“Sempre que aplico a prática, peço às crianças que se organizem por si mesmas, normalmente em grupo de quatro. É preciso garantir que não haverá uma guerra de egos entre elas.”
O pesquisador ressaltou, durante sua fala, quais seriam os componentes propícios a esta vivência. As crianças devem estar em grupos de amigos.“Sempre que aplico a prática, peço às crianças que se organizem por si mesmas, normalmente em grupo de quatro. É preciso garantir que não haverá uma guerra de egos entre elas.”
É
importante também que tenham até 12 anos de idade. “A partir dos 12
anos, elas começam a se sacanear.” As avós foram substituídas por uma
pessoa jovem que tivesse vínculos efetivos com a comunidade – mas o
papel era semelhante: estimular e mediar a busca pelo conhecimento. E os
professores?
Mitra
afirma que existem os resistentes e os entusiastas. “São duas gerações
diferentes. A mentalidade precisa mudar de baixo pra cima. Se você
fala para um pai que seu filho vai aprender sozinho, ele pergunta:
‘então, por que vou te pagar?’ Precisamos que as empresas de
telecomunicações participem também: que deem a banda larga para os
professores e assistam a transformação acontecer.”
Os
professores têm percebido que, com o computador em sala de aula, o
trabalho não está ameaçado, o que muda é o enfoque. “O conhecimento
está em toda parte. O google te dá respostas, não te dá perguntas. A
arte do professor é fazer questionamentos, e não ser um conduíte de
informações. Esse novo papel precisa ser ensinado aos professores”,
ressalta. A primeira pergunta vinda da plateia é se a máquina
substituirá o professor. Mitra foi enfático: “Se um professor pode ser
substituído por uma máquina, é porque ele deve ser substituído”.
Meninas
Sugata Mitra também ressaltou a importância da participação política da mulher na sociedade, ao defender que as mudanças sociais positivas acontecem sobretudo a partir da educação da população feminina. “Quando você muda uma menina abaixo dos doze anos de idade, você muda uma geração inteira, porque uma garota não vai deixar que seus filhos tenham menos educação do que ela.”
Sugata Mitra também ressaltou a importância da participação política da mulher na sociedade, ao defender que as mudanças sociais positivas acontecem sobretudo a partir da educação da população feminina. “Quando você muda uma menina abaixo dos doze anos de idade, você muda uma geração inteira, porque uma garota não vai deixar que seus filhos tenham menos educação do que ela.”
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