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“.... e aprendi que se depende sempre de tanta, muita, diferente gente. Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. E tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar ....”

(Gonzaguinha)

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ALUNOS TÍMIDOS MERECEM ATENÇÃO ESPECIAL NA ESCOLA



Ilustração vestibular (Foto: Editoria de Arte/G1)Algumas coisas que acontecem na vida parecem não ter explicação. E não têm mesmo. Tentar compreendê-las não passa de especulação. Mas sem fazer isso, a dureza de alguns fatos torna-se demasiadamente pesada. Só depois de se falar muito deles, pensar, sofrer... só assim algo poderá ser elaborado.
Um desses acontecimentos foi bem recente. Trata-se do menino Davi, de dez anos, que após atirar em sua professora, atirou em sua própria cabeça, cometendo suicídio. Algo incomum para uma criança dessa idade. Diante do que aconteceu, seu pai tem consciência de que nunca vão obter uma resposta.
Achar que foi apenas uma brincadeira que deu errado, como alguns cogitam, é dar um significado muito simplório à atitude do garoto.
Nossos atos não são meros acasos, eles têm um sentido. Ainda mais em se tratando de tentar matar o outro e matar-se a si próprio.
Há indícios de que havia um desconforto do aluno em relação a essa professora. E ideias verbalizadas do que ia fazer. Inclusive, mostrado num desenho. O que não é de todo estranho – desenhou a ele com duas armas e a figura de uma professora. Nem sempre damos atenção ao que as crianças dizem e expressam em seus desenhos. Que, é claro, só poderão ser entendidos dentro de um contexto. Ele disse o que ia fazer e cumpriu.
De uma maneira planejada – pegou a arma do pai e negou, quando questionado, que estivesse com ela. O fato surpreendeu a todos, inclusive a professora. Davi é descrito como criança quieta e tímida, aluno exemplar e com poucos amigos – o que ele fez parece não se encaixar em seu perfil.
Geralmente a preocupação de pais e escola é dirigida às crianças mais agressivas e arteiras. Elas também podem extrapolar. Mas a criança muito quieta e tímida não é assim à toa. As vezes, a angústia delas é maior. As primeiras expressam seu sofrimento, tendo chance maior de receberem ajuda. As mais fechadas, não. Não causam transtorno e parecem bem adaptadas as suas condições de vida. Quando manifestam sua dor, tendem a fazer de maneira extremada.
Talvez essa seja uma das lições que se pode tirar dessa situação. Outra questão a ser levada em conta, que gera muita preocupação, é o acesso que se tem a armas de fogo. Na casa de Davi havia uma, que seu pai ensinou a manusear. Quando usada, pode ser fatal. Ele era apenas uma criança de dez anos, não condiz com seu momento de vida saber lidar com uma arma. Vai além de sua maturidade. Não é qualquer um que deve ter acesso a elas.
Quem sabe essa tragédia possa ajudar a pensar nessas questões e promover mudanças.
E agora o que resta? Muita dor e questionamentos, que não devem ser colocados debaixo do tapete. Devem ser olhados e encarados. Não falar sobre o assunto tende a aumentar o sofrimento daqueles que vivenciaram de perto a situação. Como aconteceu com o menino Davi.
A escola tem um papel importante nisso, abrindo espaço para que professores e alunos expressem sua dor. Como a atitude de levar rosas brancas no retorno as aulas. Mas, também, propiciando que eles conversem sobre o ocorrido.
No começo não será fácil para muitos. Com o tempo as coisas tendem a melhorar.
Torço para que todos – família, cuja dor deve ser lancinante, e escola – encontrem paz depois de tragédia tão grande.

(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

G1

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