
Um bom exemplo de que a convivência entre familiares na sala de aula pode ser saudável é a história dos Usberco. O pai, João, ensinou química no cursinho Anglo, em São Paulo, para os dois filhos, Diego e Rodrigo, hoje com 21 e 27 anos, respectivamente.
"Eles tinham orgulho de mim, pois os amigos comentavam que minha aula era sempre divertida", conta o pai professor.
O químico diz que até esquecia que os dois meninos sentados nas carteiras eram seus filhos. "Eu inclusive nem comentava com outros alunos o fato, mas alguns professores começaram a brincar com isso na sala de aula, e então a turma ficou sabendo. Mas aconteciam apenas piadas saudáveis, engraçadas mesmo", lembra.
Os irmãos relatam que encontraram apoio emocional e técnico do pai durante a época de vestibular. Para ambos, o pai educador ajudou tanto no cursinho quanto em casa. "Eu sempre me colocava à disposição para tirar dúvidas e ajudar nos exercícios", conta João. O sucesso da parceria resultou na aprovação de Rodrigo em Direito, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e de Diego em Medicina, na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Segundo o pesquisador João Beauclair, antigamente eram tabu as relações de parentesco na mesma sala. Hoje, instituições já não mantêm a política que proibia, por exemplo, que um pai lecionasse para um filho, situação que, para Beauclair, pode ser até mais eficaz para o aprendizado. "Se existe amizade e confiança entre os membros da família, a absorção do conteúdo é ainda melhor, pois o estudante se sente à vontade para tirar dúvidas e pedir ajuda", diz.
O único cuidado que deve existir na sala de aula, ressalta, é a medida de rigidez. "Pais rígidos podem exigir demais dos filhos na turma, mais do que de outros alunos. E pais superprotetores podem fazer o contrário. Saber separar o papel de professor do de pai é essencial", afirma.
Quando o pai é colega
A porto-alegrense Francine Cabalheiro, 31 anos, também escutou brincadeiras sobre a presença paterna na sala de aula. Só que no seu caso, o pai, Gilson Cabalheiro, não estava na frente do quadro, e sim na carteira ao lado. Seguindo os passos da família na área de Administração, Francine começou a trabalhar na empresa Cabalheiros Consultores. Buscando especialização na área de gestão para o negócio familiar, pai e filha decidiram fazer o MBA em Gestão de Talentos e Clima Organizacional, na Faculdade de Tecnologia (FTEC), em Porto Alegre.
"O envolvimento familiar em torno do estudo sempre rende ótimos resultados. O clima de cooperação e aprendizado ultrapassa os limites da instituição de ensino e continua em casa", diz o especialista em educação Beauclair, lembrando também do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), no qual é muito comum ver pais e filhos estudando juntos. Francine conta que o pai foi o melhor colega possível. "Eu viajo muito pela nossa empresa, então, quando eu não estava presente em aula, ele sempre anotava todo o conteúdo e me passava em casa. Não fiquei para trás por causa dele", conta.
O cuidado do pai com a filha virou motivo de piada na turma. "Sempre rolava um comentário por parte dos colegas, mas em tom de brincadeira, sobre ele ter que me cobrar em casa", lembra a administradora. De fato, Cabalheiro sempre cobrou da filha sucesso nos estudos. "Mas isso acontecia porque eu não gostava de estudar", confessa Francine, sorrindo. O educador Beauclair afirma que, quando colegas, os pais devem tirar a armadura "daquele que ensina ao" e vestir a camiseta "daquele que aprende junto". "Cobrança não cabe neste caso, e sim colaboração", destaca.
Para Francine, o curso não teria sido o mesmo sem o pai. "Às vezes, chegávamos em casa da aula e a discussão sobre o conteúdo do dia continuava. Era ótimo". De acordo com a empresária, a formação e o nível profissional que conquistou se devem ao pai. "Sempre o admirei muito, quis seguir o exemplo dele".
Os filhos como exemplo
Pai também pode seguir os passos dos filhos. Dionilson da Rocha, de Belo Horizonte (MG), voltou a estudar inspirado nas filhas Marcela e Rafaela Gomes de Souza. Primeiro, ele apenas acompanhava as meninas até a escola estadual Djanira Rodrigues de Oliveira. "Elas estudavam de noite, e eu achava perigoso irem sozinha. Então comecei a levá-las diariamente", conta. Vendo as filhas animadas com os estudos, o trabalhador da construção civil inspirou-se e decidiu se matricular na turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que a instituição oferece.
Apesar de estudarem em salas separadas, Dionilson e a filha mais velha, Marcela, se ajudavam em casa, tirando dúvidas sobre exercícios de física e elaborando juntos textos de português. Também foi lado a lado que eles concluíram o Ensino Médio, em 2008. "A Rafaela agora está no segundo ano, e eu continuo acompanhando-a todos os dias até a escola", diz ele.
Hoje, o pai e a primogênita seguem estudando juntos. Enquanto Marcela se prepara para um concurso público da Polícia Militar, Dionilson estuda para prestar o Enem. "Quero cursar faculdade de Engenharia Civil", conta.
- Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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