No primeiro semestre de 2011, foram abertas mais de 200 mil vagas de estágio em todo o Brasil. Poderia ser uma notícia ótima, mas ela acabou revelando um problema sério no nosso sistema educacional.
Universitários, candidatos a uma vaga de estágio, fizeram um ditado com 30 palavras. A maioria errou pelo menos um terço delas. Em uma empresa de recrutamento, não tem sido fácil encontrar alguém que preencha os requisitos básicos.
“A gente está com uma vaga aberta há três meses aqui em Belo Horizonte. De cerca de 80 candidatos, quatro chegaram à final”, afirma a psicóloga e analista de RH Vanessa Ramos.
O levantamento de uma das maiores empresas de seleção de estagiários do país revela que o português tem sido a principal barreira para os universitários conseguirem uma vaga. De cada dez estudantes de jornalismo, por exemplo, sete são reprovados por erros de ortografia e dificuldade em elaborar uma redação.
Gabriela Bisotto está no quinto período de jornalismo. Já se inscreveu em vários processos seletivos para estágio. Fez quatro entrevistas e na hora do português: “Eu levei um susto. Não imaginava. Eu pensei que o meu inglês fosse ser o diferencial, a língua que eu tenho extra, mas eu vi que o português é um diferencial”.
Para quem não tem muita intimidade com o nosso idioma, os professores dizem que é preciso disciplina: “Tem que começar por um assunto que te interessa. Se você gosta de carro, leia revista sobre carro, livros que falem de carros, de corredores. A primeira coisa é a gente achar um assunto que tem a ver com a gente. Porque, se você pega um assunto que alguém mandou você ler e você tem obrigação de fazer uma prova sobre ele depois, essa leitura vai ficar fatalmente ruim”, explica Carla Viana Coscareli, professora Faculdade de Letras da UFMG.
“Você pode fazer o exercício de ver um filme, começar a contar o filme, a descrever o filme, a fazer comentários sobre o filme. Pode ouvir uma música, escrever sobre a música, fazer um comentário sobre a música”, sugere Maria do Carmo Viegas, professora de língua portuguesa da UFMG.
No primeiro período de Marketing, Israel Washington Ferreira já garantiu um estágio. A oportunidade foi conquistada graças a um hábito: “Eu leio dentro do ônibus ou leio quando eu estou em casa”, conta.
“Português é a língua que a gente fala, língua que a gente domina. Então, ela não é tão difícil. A gente tem que ficar mais atento a algumas coisas do português padrão que a gente não costuma usar na oralidade, mas isso não é nada impossível”, explica Carla Viana Coscareli.
Jornal Nacional
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