O bom desempenho acadêmico e profissional está menos ligado à
inteligência do que ao autocontrole, isto é, à habilidade de gerenciar os
impulsos, focar o que é relevante e perseverar.
Esse assunto vai entrar na agenda mundial em razão da recente divulgação
de pesquisas que, feitas por psicólogos e neurocientistas de algumas das melhores
universidades americanas, vêm ganhando credibilidade entre especialistas em
aprendizagem.
Crianças que conseguem lidar melhor com a frustração e com o fracasso
tendem a obter bons empregos, a ter sucesso em negócios, a economizar dinheiro,
a cuidar da saúde e a ficar distantes de vícios.
Além disso, é claro, elas tendem a ter melhor desempenho escolar. Ficar
sentado estudando, afinal, é tarefa que exige que, apostando numa recompensa
futura, se deixe de fazer algo mais agradável.
É possível aprender a ter autocontrole? É o que algumas escolas nos
Estados Unidos estão experimentando com crianças a partir dos três anos de
idade. Os resultados, pelo menos nas notas, têm sido positivos.
As pesquisas vêm sendo feitas desde a década de 1970, quando, na Universidade
Stanford, começaram a acompanhar crianças que demonstravam, em experimentos,
saber controlar os impulsos.
Numa das experiências, puseram um chocolate diante de cada criança de um
grupo de testes. Aquelas que não comessem nada ganhariam, mais tarde, três
chocolates. Acompanhou-se por décadas esse grupo, comparando o desempenho dos
seus integrantes nas mais variadas atividades. Observou-se que quem sabe se
controlar obtém vantagens acadêmicas, ou seja, boas notas.
No mês passado, a psicóloga Terrie Moffitt, professora da Duke (EUA), um
dos mais importantes centros de neurociências do mundo, divulgou um estudo
baseado em 30 anos de observação. Foi além das revelações sobre as notas dos
alunos. “Há um impacto generalizado nas mais diferentes áreas, inclusive na
taxa de criminalidade”, afirma.
Ela acompanhou 1.037 pessoas desde a primeira infância até os 32 anos de
idade. Resultado semelhante ocorreu em suas pesquisas com gêmeos. “Vimos que o
autocontrole, depois de descontados fatores como renda e classe social, superou
a inteligência como elemento desencadeador de sucesso no universo acadêmico e
no profissional.”
A pergunta óbvia: a habilidade de controlar os impulsos é algo genético?
A psicóloga diz que, em parte, ela decorre de herança genética, mas que também
há influência do ambiente, como a família e a escola.
Por isso algumas escolas estão criando jogos destinados a desenvolver o
autocontrole. Um dos jogos usa peças de teatro para que as crianças aprendam a
executar papéis. Esse é um recurso em meio a diversos tipos de brincadeira,
cuja recompensa está associada à capacidade de lidar com a frustração e de
postergar alguma decisão. Estimula-se, assim, a capacidade de encontrar
soluções para desafios.
Tenho visto aqui na escola de negócio de Harvard vários professores
repetirem o seguinte: bom empreendedor é aquele que sabe fracassar, fazendo
dessa experiência uma motivação e um aprendizado. “Fracasso é uma medalha a ser
colocada com destaque no currículo”, diz Rosabeth Kanter, professora da escola de
negócios de Harvard e mundialmente renomada por seus perfis de empreendedores.
Talvez esteja aí um jeito de entender melhor por que migrantes e seus
filhos -obrigados a lidar com adversidades e frustrações, desenvolvendo a
resiliência- tendem a prosperar e por que cidades mais abertas a imigrantes são
mais inovadoras e empreendedoras.
PS- Até acho que as pesquisas sobre autocontrole fazem muito sentido.
Saber trabalhar as limitações e frustrações é essencial para manter a garra.
Meu receio é o modo como isso se traduz na prática. Tenho visto muitos pais e
educadores reduzirem o espaço da brincadeira, importante para a imaginação,
para que a criança seja um adulto supostamente mais eficiente. Muita criança de
classe média tem agenda de executivo. Se o autocontrole é importante para o bom
desempenho, a imaginação também o é.
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